terça-feira, março 19, 2019

Pai... Hoje...

Hoje, Dia do Pai, recordo especialmente o meu pai. Recordo, com emoção, muitos dos momentos que passei com o meu pai, desde a infância até muito recentemente, quando nos deixou mais sós, sem a sua presença, sem o seu olhar, sem as suas palavras.

Ao redigir este texto, não sei se consigo reter as lágrimas, algo que muitas vezes tem acontecido, por vezes a propósito de uma canção, outras vezes por um filme, outras ainda pelas palavras que se leem num poema ou num texto. Sinto a sua falta, porque a sua presença era incomparável, como a presença de qualquer ser é incomparável a outra.

No seu caso, era incomparável por tudo aquilo que era… Um homem simples que transmitia calma, vontade de aprender e ensinar e muita vontade em trabalhar e dar o melhor à sua família. Emigrou à procura de melhores caminhos para a sua vida e a dos seus, tentava fugir de uma vida que não era fácil. A vida no campo era dura, sabe-o bem quem a trabalha nos socalcos difíceis das escarpas e “barrancos”.

De regresso à sua terra natal, procurou, desde logo, por rumo na sua vida e trabalhou para isso. Não ficou à espera que as coisas acontecessem, procurou pelo seu destino. Não foi simples, a vida de “pedreiro” que implicava levantar cedo, trabalho árduo, de sol a sol. Tinha orgulho no seu trabalho e dizia que o seu trabalho era o seu cartão de visita. Um trabalho bem feito mostraria aos seus potenciais clientes que melhor não haveria. Orgulhava-se também de “não haver engenheiro que lhe chegasse aos calcanhares”.

Quando comecei a acompanhá-lo nas obras, coisa que fazia nas férias grandes da escola, talvez a partir dos 15 anos, não me facilitou a vida. Dizia ou fazia entender que o filho do mestre pedreiro não poderia ter regalias, pois poderia dar a entender que tinha a vida facilitada. Não me deixava descansar e exigia cada vez mais de mim, era necessário aprendera a trabalhar, pois a vida não era fácil… E era isso que se esperava de um homem.

Algum tempo mais tarde, alguns anos depois de ter entrado nas lides das “obras”, ouvi-o dizer a alguém (já não me recordo de quem) “ele tem jeito, mas se ele quer seguir outra coisa”. Lembro-me de me dizer “davas um bom arquiteto”. Pensava eu, mas ele nem sabe se eu sei desenhar…. Mais tarde pensava, nem sabe se me interesso por esse tipo de atividade. O que sei é que o meu pai imaginava que o filho poderia seguir os seus passos, mas já numa área mais criativa, não só da execução.

O que não esqueço é que todo o tempo passado na sua companhia, muitas vezes contrariado ou a pensar que férias boas eram as dos meus colegas ou amigos que as passavam na praia, em passeios ou a jogar à bola, todo esse tempo me permitiu aprender algumas das artes da construção civil que me permitem hoje poder responder às solicitações “caseiras”.

Mais tarde, o meu pai passou por alguns problemas de saúde que lhe condicionaram a vida pessoal e profissional. A partir daí, apesar da sua enorme força de vontade, estava limitado nas suas ações. Foram momentos de tristeza, de dificuldade para a família, de condicionamento. Uma coisa aprendi, ou confirmei, havia naquele homem uma enorme força de vontade de viver, de ultrapassar os momentos complexos que se haviam atravessado à sua frente.

Em pouco tempo, médicos e enfermeiros confirmavam, a enorme força de vontade de voltar a ser autónomo tinha-lhe permitido recuperar em tempo recorde. Limitado nas suas ações, mas cheio de voluntariedade, voltava a poder tratar da terra, cultivar e mostrar com orgulho a terra amanhada, construir ou remodelar pequenos espaços da casa ou do jardim e dos arredores. Mostrava aos seus que é possível sonhar e lutar contra as adversidades.

Não foi fácil vê-lo cada vez mais dependente, a precisar que nós, mulher e filhos, tivéssemos cada vez mais tempo para si… porque precisava.

Agora, olho para trás e penso, foi pouco o tempo que passei com ele. Algumas vezes, o trabalho não o permitiu, outras vezes, o cansaço era tanto, que era mais fácil dizer “agora não posso” ou “amanhã vejo isso” ou ainda “pode ser mais tarde?” Esses momentos não voltam…

O que ficam são as saudades da sua voz, dos seus ensinamentos, dos seus conselhos, do seu olhar, da sua companhia, do seu silêncio!


Obrigado pai!!

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