Hoje, Dia do Pai, recordo especialmente o
meu pai. Recordo, com emoção, muitos dos momentos que passei com o meu pai,
desde a infância até muito recentemente, quando nos deixou mais sós, sem a sua
presença, sem o seu olhar, sem as suas palavras.
Ao redigir este texto, não sei se consigo
reter as lágrimas, algo que muitas vezes tem acontecido, por vezes a propósito
de uma canção, outras vezes por um filme, outras ainda pelas palavras que se leem
num poema ou num texto. Sinto a sua falta, porque a sua presença era
incomparável, como a presença de qualquer ser é incomparável a outra.
No seu caso, era incomparável por tudo
aquilo que era… Um homem simples que transmitia calma, vontade de aprender e
ensinar e muita vontade em trabalhar e dar o melhor à sua família. Emigrou à
procura de melhores caminhos para a sua vida e a dos seus, tentava fugir de uma
vida que não era fácil. A vida no campo era dura, sabe-o bem quem a trabalha
nos socalcos difíceis das escarpas e “barrancos”.
De regresso à sua terra natal, procurou,
desde logo, por rumo na sua vida e trabalhou para isso. Não ficou à espera que as
coisas acontecessem, procurou pelo seu destino. Não foi simples, a vida de “pedreiro”
que implicava levantar cedo, trabalho árduo, de sol a sol. Tinha orgulho no seu
trabalho e dizia que o seu trabalho era o seu cartão de visita. Um trabalho bem
feito mostraria aos seus potenciais clientes que melhor não haveria. Orgulhava-se
também de “não haver engenheiro que lhe chegasse aos calcanhares”.
Quando comecei a acompanhá-lo nas obras,
coisa que fazia nas férias grandes da escola, talvez a partir dos 15 anos, não
me facilitou a vida. Dizia ou fazia entender que o filho do mestre pedreiro não
poderia ter regalias, pois poderia dar a entender que tinha a vida facilitada.
Não me deixava descansar e exigia cada vez mais de mim, era necessário
aprendera a trabalhar, pois a vida não era fácil… E era isso que se esperava de
um homem.
Algum tempo mais tarde, alguns anos depois
de ter entrado nas lides das “obras”, ouvi-o dizer a alguém (já não me recordo
de quem) “ele tem jeito, mas se ele quer seguir outra coisa”. Lembro-me de me
dizer “davas um bom arquiteto”. Pensava eu, mas ele nem sabe se eu sei desenhar….
Mais tarde pensava, nem sabe se me interesso por esse tipo de atividade. O que
sei é que o meu pai imaginava que o filho poderia seguir os seus passos, mas já
numa área mais criativa, não só da execução.
O que não esqueço é que todo o tempo
passado na sua companhia, muitas vezes contrariado ou a pensar que férias boas eram
as dos meus colegas ou amigos que as passavam na praia, em passeios ou a jogar
à bola, todo esse tempo me permitiu aprender algumas das artes da construção
civil que me permitem hoje poder responder às solicitações “caseiras”.
Mais tarde, o meu pai passou por alguns problemas
de saúde que lhe condicionaram a vida pessoal e profissional. A partir daí,
apesar da sua enorme força de vontade, estava limitado nas suas ações. Foram momentos
de tristeza, de dificuldade para a família, de condicionamento. Uma coisa
aprendi, ou confirmei, havia naquele homem uma enorme força de vontade de viver,
de ultrapassar os momentos complexos que se haviam atravessado à sua frente.
Em pouco tempo, médicos e enfermeiros
confirmavam, a enorme força de vontade de voltar a ser autónomo tinha-lhe
permitido recuperar em tempo recorde. Limitado nas suas ações, mas cheio de voluntariedade,
voltava a poder tratar da terra, cultivar e mostrar com orgulho a terra
amanhada, construir ou remodelar pequenos espaços da casa ou do jardim e dos
arredores. Mostrava aos seus que é possível sonhar e lutar contra as
adversidades.
Não foi fácil vê-lo cada vez mais
dependente, a precisar que nós, mulher e filhos, tivéssemos cada vez mais tempo
para si… porque precisava.
Agora, olho para trás e penso, foi pouco o
tempo que passei com ele. Algumas vezes, o trabalho não o permitiu, outras
vezes, o cansaço era tanto, que era mais fácil dizer “agora não posso” ou “amanhã
vejo isso” ou ainda “pode ser mais tarde?” Esses momentos não voltam…
O que ficam são as saudades da sua voz, dos
seus ensinamentos, dos seus conselhos, do seu olhar, da sua companhia, do seu silêncio!
Obrigado pai!!
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